terça-feira, 28 de abril de 2009

Design é o progecto de amor

O design é um fenómeno de actividade e cultura projectual. A pessoa durante a sua evolução desenvolveu a sua consciência projectual, ou seja, a aspiração em fazer mudanças de ambiente, quer biológico, quer artificial, fazendo correcções dos valores que vão ao encontro daquilo que consideramos para nós como melhor. Os tempos de hoje obrigam a que, mesmo sem sermos projectistas a nível profissional, tenhamos que projectar face às realidades que nos envolvem, mesmo sem que tenhamos uma total consciência disso. Quando somos levados a comprar um simples objecto ou utensílio que necessitamos, ou que simplesmente adquirimos porque gostamos, estamos a projectar, a tentar mudar, alterar, corrigir, ou mesmo a acentuar com a aquisição desse objecto um aspecto ou pormenor que queremos evidenciar, perspectivando onde e como esse objecto se integra, o que ele acarreta de mudança do espaço ou meio em que se insere, envolvendo outros factores. Tudo isto se insere numa realidade projectual. Este processo, em si, independentemente do seu resultado, é ele próprio design. Referiu Gaston Bachelard que uma simples empregada doméstica, polindo a mesa e os móveis com cera, e que, com amor, os acaricia dia a dia para que estejam sempre a brilhar, ela própria faz design. O carinho, as carícias que depositamos nalguns objectos para nós significativos e alvo de devoção amorosa, alcançam”uma patine” especial e própria, para lá de todas as lacas e ceras de polimento. A título de exemplo daquilo a que me refiro, se visitarmos a Basílica de S. Pedro em Roma, ao repararmos na antiga estátua de S. Pedro sentado na sua “sédia”, que é alvo da devoção de milhares de visitantes diários que dela se aproximam e fazem filas para colocar a mão, e até beijar, no pé desta consagrada estátua em bronze do Apóstolo a quem Cristo confiou a sua Igreja, reparamos com facilidade a alteração morfológica que tal gesto que se repete vezes sem conta provocou nesta imagem, para além da patine particular que o pé da estátua adquiriu face a todo o resto dela. Isto tudo para concluir que, quando fazemos recair o nosso amor em algo e o projectamos, se incidimos, por exemplo, à volta de uma ideia, ela resplandece, e tal como os objectos que adquirem um brilho particular com a insistência do nosso gesto sobre eles, essa ideia brilha de modo especial, porque é alvo da nossa dedicação e amor. Neste sentido, o design também é amor.

Os conteúdos das metas dos nossos projectos, normalmente, são necessidades que variam, dependendo do nosso estado de desenvolvimento técnico e cultural, e até dos meios em que estamos inseridos, procurando assim as respostas para as necessidades que originam os nossos projectos.  Para além disso, o objecto da nossa meta pode ser iluminado pelos nossos erros ou mesmo por coisas que acontecem ocasionalmente ou acidentalmente, e que dali podem resultar perspectivas e ilações positivas que iluminam as nossas metas. 

Durante a evolução do desenvolvimento do projecto em si, estão presentes duas vertentes, aparentemente opostas: uma, que consiste em seguir os cânones existentes e que, à partida, definem; e outra, que é, precisamente, libertar-se desses mesmos cânones e encontrar a inovação. Desde o momento do início da produção em massa, que é iniciado com a Revolução Industrial, o projecto começa a ser um sistema complexo, implicando a conjunção de diversos factores de todo o sistema de produção, levando à criação de uma “árvore de metas”, com curto, médio e longo prazo. O próprio design, assim, cada dia mais, atinge uma exigência que implica os maiores e mais diversos níveis de avaliação do projecto, em múltiplas valências e com variadas implicações. Estando nós num mundo pós industrial, sobrelotado de coisas e objectos de toda a espécie, que se sobrepõem uns aos outros, e que já não correspondem às necessidades, mas são eles próprios que criam a sua necessidade, e consistindo o design numa exigência contemporânea da identidade desses mesmos produtos… poderemos, então, levantar uma questão legítima: na medida em que o design, na sua origem, surge de um gesto de particular atenção e até de amor, não será que, um dia, sobrelotados de tudo, engolidos pelo consumismo, não será melhor parar, atenciosamente e por amor, e deixar de fazer algumas coisas que implicam com os ecossistemas e cuja produção não garanta totalmente a salvaguarda da ecologia? Bem, esta questão é apenas um exercício de reflexão que aqui coloco, imaginando o dia em que, na Basílica de S. Pedro, terão que retirar a tal estátua do Apóstolo Pedro da devoção voraz da fé  dos fiéis, antes que a estátua fique sem o pé e se inutilize Claro que o bronze é muito resistente, todos o sabemos, mas também é verdade que sabemos,  e sobretudo com os problemas ecológicos que cada vez mais se levantam, que a própria Humanidade tem os seus próprios pés de barro. E ter ideias disto, e reflectir sobre elas, pode ajudar-nos a encontrar soluções brilhantes que, se tiverem harmonia e forem atenciosamente por amor, poderá ser design.


quinta-feira, 2 de abril de 2009

O QUE É DESIGN? ...deixem-me beber um copo e já digo..



CHALEIRA BEHRENS



CHALEIRA BEHRENS

Peter Behrens (1868-1940) foi um dos mais influentes arquitectos alemães e dos primeiros designers da toda hístória do design.  Participou na fundação de Werkbund (um pograma de estado dirigido para o desenvolvimento de inovação na arquitectura, produção industrial, design e novas ideias artísticas). Foi director atístico da AEG e lá desenvolveu  "tudo", desde produtos ao design de edificios, e também, pela primeira vez na prática da história do design, foi desenvolvida a identidade corporativa da empresa.
Behrens, nos seus projectos, baseou-se sempre não na qualidade dos detalhes concrectos, mas numa exelente organização de tudo, que incluía aspectos da utilização e aspectos comerciais, para lá dos aspectos concrectos da produção. Quando projectou produtos utilitários para casa, começou pele elaboração de projectos de "chaleiras", tendo por meta de as criar sem qualquer perigo na sua utilização, melhorar a sua funcionalidade, torná-las tecnológicas na produção, com beleza estética e criar, ao mesmo tempo, uma peça de prestígio, como o Samovar russo ou uma chaleira inglesa para o distinto ritual do chá.

 As suas chaleiras tinham uma clara grometria e beleza da forma, criando uma linha que variava em volume, com três variações, na forma geométrica, também em três variações, em gota redonda, em gota oval e em lanterna chinesa com base octagonal. A sua terceira característica, consiste no material empregue, e a quarta no tratamento que dava ao metal utilizado. Com esta sua "matemática" criou 81 tipos de chaleiras diferentes: 3 (volume) x 3 (forma) x 3 (material) x 3 (método de tratamento dos materiais).